O Diabetes Mellitus não é apenas um problema da endocrinologia. É uma condição metabólica crônica caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue, que ao longo do tempo causam danos ao coração, vasos, rins, olhos e nervos.
Globalmente, cerca de 1 em cada 9 adultos entre 20-79 anos vive com Diabetes Mellitus. No Brasil, estimativas mais recentes apontam para prevalência entre 8 % e 9,4 % na população adulta, com proporção elevada de subdiagnóstico.
Para médicos de várias especialidades, seja cardiologia, neurologia, psiquiatria ou pediatria, o impacto do Diabetes Mellitus está na interseção com complicações cardiovasculares, neurológicas, psiquiátricas e metabólicas. Portanto, ter um guia claro para o rastreio, metas iniciais e comunicação com o paciente não é luxo: é fundamental para melhorar os desfechos clínicos.
Quem rastrear em atenção primária (APS) e com que frequência

O rastreio em APS deve ser orientado por fatores de risco e grupos vulneráveis. Em primeiro lugar, qualquer paciente com sobrepeso/obesidade, hipertensão ou dislipidemia deve ser considerado. Idade a partir de 40 anos (ou mais cedo se fatores de risco) também é momento chave para avaliar.
Critérios objetivos para rastreio incluem:
- IMC elevado ou aumento de circunferência abdominal.
 - Pressão arterial elevada e/ou dislipidemia.
 - História familiar de Diabetes Mellitus ou história de G > 126 mg/dL em jejum ou HbA1c elevada em exame prévio.
 - Em gestantes: glicemia em jejum ou teste de tolerância à glicose conforme diretriz local.
 
Quanto à frequência: para indivíduos sem fatores de risco e glicemia normal, a cada 3 anos pode ser suficiente. Para os com fatores de risco, o ideal é rastrear anualmente ou, em presença de alterações iniciais (por exemplo, glicemia de jejum entre 100-125 mg/dL ou HbA1c entre 5,7-6,4 %), a cada 6-12 meses. Isso permite detectar precocemente o Diabetes Mellitus ou o estado de risco aumentado (pré-diabetes), iniciando intervenção antes das complicações.
Metas glicêmicas iniciais e abordagem não farmacológica
Após diagnóstico de Diabetes Mellitus, a definição de metas glicêmicas iniciais é um dos pilares para o bom manejo. Para a maioria dos adultos sem comorbidades graves, uma meta razoável de HbA1c inicial pode ser ≤ 7,0 %. Em pacientes mais jovens, com longa expectativa de vida e sem risco de hipoglicemia, pode-se considerar < 6,5 %. Em pacientes idosos, com múltiplas comorbidades ou risco elevado de hipoglicemia, meta mais conservadora, como ≤ 7,5 % ou mesmo ≤ 8,0 %, pode ser mais segura.
Paralelamente às metas, a intervenção não farmacológica deve começar já no momento da consulta inicial:
- Educação para adoção de dieta de qualidade (menos açúcares simples, mais fibras) e incentivo à atividade física (idealmente ≥ 150 minutos/semana de exercício moderado).
 - Redução de peso de 5 %-10 % se houver sobrepeso/obesidade, o que pode melhorar sensibilidade à insulina e até reduzir a progressão da doença.
 - Avaliação de outros modificadores de risco cardiovascular (tabagismo, hipertensão, dislipidemia) já no momento da primeira consulta.
Essas medidas visam estabilizar rapidamente a glicemia, reduzir riscos e preparar o terreno para eventual terapêutica farmacológica. 
Sinais de alerta para encaminhar ao especialista

Mesmo com abordagem inicial em APS, há situações em que o encaminhamento para o especialista (endocrinologista/metabologista) é indicado imediatamente. Atente para:
- Paciente com diagnóstico de Diabetes Mellitus no momento da consulta e com HbA1c ≥ 10 % ou glicemia de jejum muito elevada (por exemplo > 250 mg/dL) ou sintomático com polidipsia/poliúria/perda de peso.
 - Situações de cetoacidose diabética ou síndrome hiperglicêmica grave.
 - Presença de complicações agudas ou crônicas graves: retinopatia proliferativa, nefropatia com proteinúria, neuropatia grave, doença cardiovascular avançada ou preparação para cirurgia ou gravidez com risco elevado.
 - Falha de controle glicêmico apesar de intervenções não farmacológicas e farmacológicas apropriadas.
 - Sinais de que a etiologia pode não ser Diabetes tipo 2 simples (por exemplo, apresentação em jovem magro, autoanticorpos positivos).
 
Nesses casos, encaminhar rapidamente garante avaliação especializada, ajuste terapêutico e acompanhamento mais intenso.
Comunicação eficaz e educação do paciente
A gestão do Diabetes Mellitus depende tanto da conduta do médico quanto do engajamento do paciente. Uma comunicação eficaz e a educação terapêutica são essenciais para o sucesso.
Algumas estratégias práticas:
- Utilize uma linguagem acessível, evitando jargões: explique o que é glicose, insulina, por que o controle importa.
 - Estabeleça metas claras junto com o paciente: “reduzir HbA1c para 7,0 %”, “caminhar 30 minutos 5 vezes por semana”.
 - Entregue material educativo (folder, link, app) para reforçar fora da consulta.
 - Crie plano de ação individualizado: por exemplo, se o paciente relata dificuldade em atividade física, definir “caminhar 10 minutos após jantar, 3 vezes/semana” e aumentar gradualmente.
 - Avalie barreiras: sedentarismo, acesso a alimentos saudáveis, suporte familiar. Trabalhe em plano de superação.
 - Reforce a importância do automonitoramento (se indicado) e do seguimento regular.
 
Quando bem feita, a educação do paciente melhora a adesão, reduz complicações e fortalece a imagem do consultório como ambiente de cuidado integral.
Erros comuns na primeira abordagem e como evitá-los
Em consultórios e ambulatórios, alguns deslizes ocorrem com frequência na abordagem inicial de Diabetes Mellitus, podendo prejudicar o paciente ou atrasar o controle. Entre eles:
- Diagnosticar e sair logo com prescrição, sem abordar medidas de estilo de vida. Isso deve ser evitado! Inclua o plano não farmacológico desde o início.
 - Estabelecer metas glicêmicas irrealistas (ex: HbA1c<6,0 % em paciente idoso com múltiplas comorbidades) sem ajustar para o perfil individual. O ideal é que o médico personalize as metas.
 - Falta de educação e engajamento do paciente, criando um pensamento por parte do médico de  “vou dar o remédio e pronto”. O ideal é que o profissional converse, escute e eduque, pois a conscientização e adesão do paciente ao tratamento é essencial.
 - Ignorar comorbidades cardiovasculares ou nefrológicas associadas. Evite esse erro, faça uma avaliação global.
 - Não considerar encaminhamento quando indicado. Esteja sempre atento aos sinais de alerta.
 - Falha no seguimento ou intervalo de controle muito longo. É importante que o médico estabeleça retorno em 3-6 meses, ou mais breve conforme o caso.
 
Corrigir esses erros desde a primeira consulta fortalece a adesão, a confiança e melhora o prognóstico do paciente.
Caso clínico ilustrativo

Maria, 55 anos, hipertensa há 8 anos, IMC = 31 kg/m², relata frequência urinária aumentada e sede leve nas últimas semanas. Em exame de rotina de APS, glicemia de jejum = 142 mg/dL, HbA1c = 7,3 %. Diagnóstico de Diabetes Mellitus tipo 2 estabelecido.
Triagem e plano inicial:
- Identificados fatores de risco: obesidade, hipertensão.
 - Metas glicêmicas definidas: HbA1c alvo de ≤ 7,0 % (paciente relativamente jovem, sem comorbidade severa).
 - Início imediato de intervenção não farmacológica: plano alimentar com nutricionista, caminhada moderada 30 min 5x/semana, objetivo de perda de 5-8% do peso em 6 meses.
 - Educação do paciente: explicação sobre o que é Diabetes mellitus, por que glicose elevada importa, monitoramento, importância do estilo de vida.
 - Avaliação de sinais de alerta: não indicava agora encaminhamento, pois ausência de complicações, HbA1c moderado, paciente estável.
 
Seguimento: Em 3 meses, retorno para reavaliação de HbA1c. É importante manter a adesão ao plano para que a situação do paciente possa ser acompanhada de forma mais precisa. Caso as metas não sejam cumpridas, o endocrinologista pode avaliar a necessidade de terapia farmacológica.
Este exemplo mostra como a rotina do consultório pode ser estruturada, da triagem ao plano inicial, com clareza e foco.
A importância da atualização em endocrinologia
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Trazer mais qualidade de vida ao paciente é possível
O Diabetes Mellitus é uma condição de alta prevalência, com impacto transversal em várias especialidades médicas. Rastrear adequadamente, definir metas iniciais realistas, educar o paciente de forma eficaz, evitar erros comuns e saber quando encaminhar são etapas essenciais para melhorar os desfechos clínicos. Para estar preparado, contar com atualização contínua faz toda a diferença. Ao escolher um Curso de Atualização em Endocrinologia, você fortalece sua competência, dá mais segurança aos seus pacientes e consolida sua atuação como profissional que entrega cuidado de excelência.
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